Nimble vs Ágil: Por que uma palavra só não é suficiente?

Uma análise aprofundada das principais diferenças entre nimble e ágil e uma visão geral de como ser nimble.

Recentemente me deparei em um artigo com um conceito que não conhecia:

NIMBLE: a habilidade de uma organização de navegar em ambientes de negócios imprevisíveis e operacionalizar a inovação por meio de uma capacidade escalável de compreender e responder a mudanças com precisão e velocidade.

Fui ao dicionário para procurar a tradução e lá estava:

Nimble (adjetivo): ágil.

Neste momento me fiz a mesma pergunta que você deve estar se fazendo: Por que “catzo” precisamos inventar uma palavra nova se já foi duro assimilar a outra?

O movimento que floresceu com o desenvolvimento ágil de software(2) tem marteando na nossa cabeça há mais de duas décadas que é preciso agir de uma determinada forma para podermos reagir e mudar de direção rapidamente.

Os 4 valores do manifesto para o desenvolvimento ágil de software:

  • Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas.
  • Software em funcionamento mais que documentação abrangente.
  • Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos.
  • Responder a mudanças mais que seguir um plano.

Aprendi que esse conceito poderia ser abrangido não apenas para software, mas também para outras áreas de uma organização chamando de agilidade de negócio e, até então, eu estava satisfeito com o conceito e de chamar isso tudo apenas de “ágil“.

Mas conceitos são abstrações que existem em nossa mente para entender o mundo real. Quando damos o mesmo nome para conceitos diferentes, nossa capacidade de entender e articular o mundo fica restrita. A capacidade de articular a complexidade depende de darmos nomes e associarmos definições que representam nossas ideias de maneira clara.

Vejamos um exemplo:

Acredita-se que os esquimós têm mais mais de 50 palavras para descrever a neve. Alguns pesquisadores da Universidade de Glasgow que estão realizando o primeiro dicionário histórico do dialeto escocês afirmam já terem reunido 412 termos só para falar da neve em diferentes conceitos: A mais óbvia, “snaw”, neve padrão; “sneesl”, quando começa a nevar; “skelf”, para um floco de neve grande; “snaw-ghast”, para as imagens que a neve forma; e “snaw-pouther”, para a neve fina.”; e assim vai…

É muita nuance! Difícil de entender para quem, como eu, vive num país tropical e viu neve pela primeira vez só depois dos 30 anos de idade e por um final de semana em viagem ao exterior. Mas para quem vive num país gelado, a capacidade de se comunicar sobre o clima e suas nuances é essencial, e isso demanda um conjunto maior de termos para representar diferentes conceitos.

Para podermos articular melhor nossas ideias, precisamos de um vocabulário mais amplo. Se você lida com gerenciamento de iniciativas, organizações ou negócios, vale a pena diferenciar “ágil” de “nimble”.

A diferença entre ágil e nimble

Infelizmente, não temos uma palavra adequada para traduzir o conceito específico em inglês a que se refere o termo “nimble“, portanto eu vou usar a palavra em inglês mesmo.

Recentemente fiz uma entrevista com Keith Ellis sobre a diferença entre esses dois termos e você pode assistir o resultado aqui.

Os termos Nimble e Ágil tem aparecido frequentemente no âmbito das publicações científicas sobre metodologias e práticas usadas no gerenciamento de projetos e desenvolvimento de produtos. No entanto, são apresentados de formas distintas em sua abordagem e objetivos.

Ágil (ou agile, em inglês) é uma filosofia de gerenciamento que enfatiza flexibilidade, colaboração e satisfação do cliente. Foi originalmente criado por um grupo de desenvolvedores de software frustrados com a abordagem tradicional e rígida do desenvolvimento de software. Este grupo se reuniu em 2001 e criou o Manifesto Ágil (2) com um conjunto de valores e princípios. Desde então, o Ágil tem sido adotado por organizações em vários setores como uma abordagem que enfatiza a entrega iterativa e incremental de produtos, estreita colaboração entre clientes, stakehoders do negócio e a equipe de desenvolvimento, e um foco em entregar primeiro os recursos de maior valor.

Nimble, por outro lado, é uma capacidade composta de velocidade de entendimento e capacidade de resposta adequada. É provavelmente o que as empresas que adotam uma abordagem ágil normalmente buscam, mas não depende da forma de fazê-lo e sim do resultado obtido. Não há uma pessoa ou organização única creditada por criar esse conceito, mas ele tem sido usado mais recentemente e costuma ser usado para enfatizar a importância da velocidade e da flexibilidade no ambiente de negócios e diferenciar essa habilidade da forma pela qual ela pode ser atingida.

Em resumo, o Ágil é uma forma de agregar valor por meio de colaboração e flexibilidade, enquanto o Nimble é a habilidade de reagir de forma rápida e eficiente.

Empresas ágeis vs nimble

O quadro abaixo distingue esses 2 conceitos em uma matriz que mostra de maneira bastante clara o porque é necessário distingui-los. A matriz faz uma pergunta em cada eixo perguntas e espera respostas entre 0 e 100%:

  • eixo X: A empresa trabalha de modo ágil?
  • eixo Y: A empresa é nimble?
Matriz nimble vs ágil

O quadrante IV dessa matriz representa empresas que trabalham de forma ágil e não são nimble. Você certamente conhece algumas dessas. São empresas que utilizam estritamente as práticas e conceitos da abordagem ágil como gerenciamento de backlog, decomposição de histórias de usuários, iterações de curta duração, retrospectivas etc., mas não são flexíveis e tem dificuldade para entender e reagir a uma nova situação de negócio que se apresente.

Já o quadrante I apresenta empresas que não seguem a abordagem ágil, mas são extremamente hábeis em entender novas necessidades e reagir rapidamente a elas. Você já deve ter visto algumas dessas também. Elas seguem uma abordagem tradicional, orientada ao planejamento detalhado de longo prazo, mas fazem a gestão de mudança de seus planos rapidamente sempre que uma nova realidade se impõem ao seu contexto de negócio, entendendo os impactos e mapeando soluções adequadas para maximizar valor.

Assim como muita gente, eu vinha chamando tudo de Àgil: tanto a capacidade quanto a forma de trabalho. A falta do termo Nimble dificultava para mim articular com clareza as situações exibidas nessa matriz e com isso poder tratar desse assunto de forma mais clara. O que as empresas buscam mesmo é serem nimble.

Como ser nimble

O IIBA realizou um estudo profundo sobre as empresas que se sobressaem em relação ao seus concorrentes e constatou que as que são reconhecidas como as melhores entre seus pares tem 2,5 vezes mais capacidade nimble do que as retardatárias.

Isso mesmo, capacidade nimble é mensurável. Mas sua medida é diferente da avaliação do nível de maturidade dos processos de uma organização sob um determinado método de trabalho.

  • Maturidade mede o quanto os processos da organização estão bem estruturados e podem ser repetidos e melhorados continuamente.
  • Medida de capacidade não olha para os processos, mas para os resultados. Nimble é uma medida de desempenho.

Curiosamente, o estudo não mostra uma correlação direta entre as empresas que adotaram práticas ágeis e as que desenvolveram nimble como capacidade. Seguir um método é de fato importante e é considerado uma das dimensões chaves para que a organização se torne nimble (veja mais adiante), mas não necessariamente precisa ser um método ágil. O importante é que o método seja adequado às necessidades da organização.

Para que uma empresa desenvolva sua capacidade nimble, o IIBA aponta quatro dimensões que precisam ser desenvolvidas para que uma organização se torne adaptável simultaneamente com precisão e velocidade, ou seja, nimble:

As 4 dimensões de uma organização nimble (IIBA, 2022)

Habilitar e empoderar pessoas

Desenvolver habilidades, processos, técnicas, tecnologias e ambiente para que os funcionários possam realizar seu trabalho com eficiência e prover segurança psicológica, autoridade de decisão descentralizada, abertura para desafio respeitoso das formas de trabalhar, acabar com o trabalho improdutivo e ser orientado para resultados.

Praticas nimble

O IIBA lista 8 práticas observáveis e mensuráveis que suportam as habilidades, métodos e características necessárias para habilitar e empoderar pessoas de maneira efetiva para que realizem o seu trabalho.

As 8 práticas para a organização nimble (IIBA, 2022)

Métodos de trabalho

Assumir que um único método específico mudará drasticamente o desempenho é um erro. Não existe “bala de prata”. Não ter método algum e fazer cada vez de um jeito (ad-hoc) é pior ainda. As empresas com menor capacidade nimble são aquelas que não conseguem institucionalizar método algum para ser usado com regularidade.

Para desenvolverem a capacidade nimble, as empresas devem institucionalizar um pequeno portfólio de métodos e ajustá-los às necessidades específicas da organização. Pelos dados pesquisados, nenhum método específico se sobresai aos demais. O importante é a adequação e a consistência em sua utilização.

Análise de Negócios

É essencial desenvolver um Mindset de Análise de Negócios na organização e habilitar os colaboradores com habilidades, ferramentas e práticas de análise de negócios para suportar as 8 práticas nimble descritas anterioremente.

Análise de negócios é definida no guia BABOK® (3) como “a prática de viabilizar mudanças em uma empresa, pela definição de necessidades e recomendação de soluções que agregam valor aos stakeholders”.

O papel da análise de negócios é central para que o entendimento das necessidades e desenho de soluções estejam alinhados às metas estratégicas da organização. Os responsáveis pela análise de negócios em uma empresa precisam ser pessoas que assumem responsabilidade não somente por executar tarefas, mas por obter resultados de negócio. São líderes e agentes transformadores.

Conclusão

Embora os termos ágil e nimble em inglês serem muitas vezes compreendidos como sinônimos, num contexto do gestão, eles não são a mesma coisa. Ágil é uma abordagem específica para a realização do trabalho, enquanto Nimble se refere à capacidade de uma organização de responder rapidamente a mudanças e oportunidades.

Articular esses conceitos separadamente nos permite identificar as situações específicas onde cada método de trabalho é mais apropriado e investigar outras formas de desenvolver as habilidades desejadas em nossas organizações.


Referências

  1. Being nimble – The Scalable Capability for Organizations to Sense and Respond to change; IIBA, 2022
  2. Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software
  3. BABOK Guide® – A Guide to the Business Analysis Body of Knowledge, IIBA, 2009